quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Réquiem de Verdi

Guiseppe Verdi

A “Missa de Réquiem” de Guiseppe Verdi foi composta em1873-74 em homenagem ao recém-falecido escritor Alessandro Manzoni (1785-1873). As origens da obra remontam, contudo ao passamento, em 1868, de outra figura central da cultura italiana do século XIX, o compositor Gioachino Rossini A morte de Rossini ocorrera em um momento muito particular, quando o interesse pela ópera nacional começava a decair na Itália Como reação a essa tendência, Verdi propôs que alguns compositores, entre os quais ele mesmo, escrevessem um Réquiem para Rossini, uma espécie de tributo nacional ao autor de “0 Barbeiro de Sevilha”. Coube a Verdi compor a parte final “Libera me, Domine” desse Réquiem coletivo.  Todavia, apesar de os compositores envolvidos no projeto terem cumprido suas partes, a obra não foi apresentada na ocasião para a qual havia sido idealizada no aniversário de falecimento de Rossini, e terminou abandonada. Alguns anos mais tarde, a morte de Manzoni levaria Verdi a retomar a ideia de celebrar um grane artista nacional. Aproveitando o “Libera me, Domine” composto para Rossini, Verdi completou a “Missa de Réquiem” a tempo de ser executada o primeiro aniversário da morte de Manzoni, na Igreja de São Marcos (Milão), sob regência do próprio compositor.
Embora durante a infância tenha sido instruído nos princípios do catolicismo, Verdi possuía opiniões bastante liberais. Não por acaso, talvez, alguns contemporâneos viram pouca religiosidade na “Missa de Réquiem”.  O célebre maestro Hans von Bülow chegou a afirmar, irônico e severo, que a obra era uma “opera sob veste de igreja”. Ainda que Verdi insistisse que a apresentação de “Réquiem” não fosse teatral, a obra possui de fato um caráter marcadamente dramático.
Para exprimir as poderosas emoções transmitidas pelo texto, Verdi emprega recursos musicais próprios de suas óperas, como as melodias sublimes, os ritmos vigorosos, a sonoridade grandiosa e, sobretudo, os contrastes dramáticos. Nesse sentido, a suavidade inicial do “Réquiem / Kyrie” segue-se ao terrível “Dies Irae” em fortíssimo, a evocar o dia do Juízo Final. O “Ofertório”, por sua vez recupera o lirismo do começo da Missa, mas em chave serena e ainda mais intimista; dessa forma, enquanto no “Dies Irae” predominam as massas sonoras dos metais e do coro a escrita do “Ofertório” privilegia as madeiras, as trompas, as cordas e os cantores solistas, ao passo que o coro silencia.
As melodias simples e modestas do “Ofertório” dão lugar, em seguida, à majestosa e complexa polifonia do “Sanctus” em que retoma a grandiosidade do “Dies Irae”, mas o tom, agora, é alegre e triunfal. Vale mostrar     que Verdi demonstra grande virtuosismo na composição da complicada fuga em oito partes (com o coro dividido em duas partes) que se desenvolve nesse movimento da Missa. Após a tempestade do “Sanctus” a música se apazigua novamente no “Agnus Dei” angelical e no indeciso “Lux Aeterna”. Por fim, os contrastes entre as sonoridades pujante e recolhida, entre as texturas polifônica e melodiosa, entre os estados de angústia e serenidade, contrastes que se verificam entre as partes da Missa, concentram-se no último movimento da obra, o “Libera me” (que Verdi compusera para o Réquiem em memória de Rossini, e que ele aproveita na Missa de Réquiem com algumas alterações). Ao tema infernal ”Dies Irae” que retorna, contrapõe-se ao sussurro, em melodia consoladora, da frase inicial da obra, “Réquiem Aesternam”, reminiscência dos primeiros compassos da Missa. Após uma fuga esplendorosa, o “libera me” extingue-se em pianíssimo de modo que a Missa de Réquiem, monumental em tantos aspectos, se encerra em murmúrio, a beira do nada.

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