O maestro Alex Klein, no exercício democrático da
informação, pronuncia-se, afirmando que “estamos tentando fazer o que é certo,
com transparência, educação e bom senso. Se isso porventura não ficar claro,
estou aberto a opiniões e questionamentos”.
Abaixo, na íntegra, segue o contundente texto:
“Não há muito o que revelar na verdade. Há muitas
falsidades, sim, mas são um grito de desespero de um sistema falido, que
findou. Pense bem….eu acabo de chegar aqui….nem terminamos uma temporada, que
mal está tendo continuidade devido a sérios problemas internos que precedem
minha vinda em 20 anos ou mais.
A minha chegada levantou receios em muitos, de que a
Orquestra Sinfônica da Paraíba iria alterar sua produtividade. Isso tem levado
a regulares assembléias e distrações durante toda a temporada. Mas eu considero
isso normal.
É certo que eu fui chamado para liderar uma “renovação” da
orquestra, e que em outras partes do país tal palavra levanta medos diversos em
músicos. Como eu mesmo sou músico orquestral experiente, eu não acredito em
demissões em massa nem audições internas ou a eliminação de músicos devido à
sua idade e “percepção” de baixa produtividade. Isso sempre me pareceu uma desculpa
mal explicada para alguns maestros imporem respeito. Não preciso disso, e eu na
verdade aposto na garantia de empregos e na liberdade de expressão. É claro, há
consequências para isso, inclusive para mim, pois eu abro a portela para
críticas ao próprio maestro.
Mas em um estado de direito, de liberdade, isso é elogiável.
Eu vejo a atual manifestação (como esta postada em seu blog) como um dos
maiores elogios à minha liderança aqui na Paraíba. Imagine que, com esta
liberdade de expressão aberta a todos e sem receio qualquer de retaliações, os
músicos paraibanos podem se reunir quando querem, falar e escreverem o que
desejam, e enviar quantos abaixo-assinados forem necessários à autoridade de
sua escolha. Onde se viu tal liberdade antes em orquestras brasileiras, e onde
nem um único emprego estava ameaçado?
Ao contrário do que foi mencionado, não houve “unanimidade”
na decisão dos músicos em excluir seu maestro que acaba de chegar a poucos
meses atrás (!). Houve sim coação, e diversos músicos e administradores vieram
falar comigo ou me escreveram alegando que foram coagidos, pedindo-me
desculpas, e explicando que devido aos muitos anos de interação com seus
colegas eles se encontraram em situação constrangedora. Alguns foram ameaçados
com assédio ou pior. Mas nada disso realmente tem valor, pois a OSPB não
pertence aos músicos, e sim ao povo da Paraíba, e é aí que se resolvem as
coisas com bom senso e respeito à lei. Quem manda é o povo, o público, e o
contribuinte da Paraíba, não os músicos e não o maestro.
Aos fatos:
1) Nenhum músico foi demitido. A OSPB até hoje se apresentou
via um convênio com a UFPB. Porém, ao contrário do que acontece na Bahia (onde
professores da UFBA são também membros da OSBA), os professores universitários
na Paraíba optaram por não abandonar seu contrato de exclusividade com a
universidade, por óbvios benefícios financeiros. Porém, este contrato foi
julgado irregular pela COrregedoria e pelo Tribunal de Contas, e já estava em
questionamento quando eu cheguei na Paraíba. Não se trata portanto de demissões
de “efetivos”, e sim o descontinuamento de um contrato irregular one alguns
músicos recebiam um salário adicional apesar de terem assinado contratos de
exclusividade com uma Universidade Federal. Este contrato está encerrado.
2) Eu estou aqui a cerca de 7 meses, e até hoje não conheci
todos os músicos da orquestra. Não é como se seu instrumento não foi necessário
na programação. Foi, mas no lugar do músico “fantasma” veio um substituto. Como
e por quem este substituto foi pago foge à minha compreensão, e há óbvias
consequências jurídicas nisso. Há casos em que músicos só apareceram uma ou
duas vezes desde o começo da temporada, outros que não vejo a 3 meses, e ainda
temos muitos músicos que também tocam na orquestra de Recife, e para lá vão sem
deixar substitutos, desfalcando o trabalho da OPSB.
3) Não havia critérios no envolvimento de músicos da UFPB.
Há exemplo onde o músico que atua na OSPB nem era professor de instrumento
algum na universidade. É como se alguém desse um violino nas mãos de um
professor de outra área e o oferecesse uma posição na orquestra de ponta no
estado, recebendo dinheiro por isso via um contrato irregular. Isso acabou.
4) Ao contrário de outras orquestras do Brasil, a OSPB tem
19 Diretores Artísticos. Sim, dezenove (!). Todos os chefes de naipe, spalla, e
até a Diretora Executiva dividem a posição de “Diretor Artístico” com o
maestro, no que aparenta ser uma tentativa anterior de minimizar a autoridade e
liderança de um regente, mesmo se, como você percebe hoje, permanece uma
expectativa de que o maestro ainda pode – e deve – liderar ou
responsabilizar-se pelo andamento da orquestra inteira.
Como liderar sem poder de liderança, ou com o poder diluído
entre 19 pessoas, a maioria das quais demonstrando dúbio interesse nos
melhoramentos para a orquestra? Como é de se imaginar em uma cidade de 19
prefeitos, as “reuniões” da orquestra não acabam bem. Há gritos, insultos,
truculência, ameaças e eu mesmo presenciei ocasiões onde músicos quase se
agridem. Já houve relatos de agressões físicas no passado, e até de músicos
virem armados a assembléias.
Esta multiplicidade de Diretores Artísticos também coloca em
questão praticamente todos os argumentos levantados neste momento, pois além da
Diretora Executiva e eu, nenhum dos outros “Diretores Artísticos” jamais
aparecem para trabalhar, salvo em esporádicas reuniões. Ora, o Regente e a
Executiva tem cargos comissionados, limitados a esta administração, e precisam
demonstrar serviço ou são removidos rapidamente, mas os outros “Diretores
Artísticos”, salvo pela spalla que também é comissionada, tem cargos
essencialmente vitalícios, de funcionalismo, e utilizam dos poderes de
diretoria para perpetuar um corporativismo e latifúndio improdutivo musical.
Quando você considera as palavras “diretoria” e “vitalícia”
em uma mesma sentença, você percebe que isto está errado e não responde bem
pela nossa constituição ou por princípios democráticos. Seria isso um resquício
de totalitarismo? Ora, como podem “Diretores” terem cargo vitalício? Em nossa
sociedade, quanto mais elevado o cargo, maior deve ser a cobrança, e menor deve
ser o seu tempo de serviço a este nível, justamente para evitar ações
corruptivas e manter o fluxo de produtividade.
5) Alega-se que há imposição do maestro na escolha de
repertório. Ora, meu caro Álvaro….”isso é o que maestros fazem”. Apesar da
existência de 19 Diretores Artísticos na OSPB (mais uma série de outros
músicos, inclusive alguns que nem são da orquestra mas que participam ativamente
do Conselho Artístico e absurdamente ainda assinaram por ele até pouco tempo
atrás), não há qualquer indicação jurídica de que o repertório da orquestra não
deva ser escolhido pelo maestro. “Direção Artística”, afinal, não se trata
meramente de escolha de repertório, mas também pesquisa, comparação, busca de
biografias e fotos, preparo e apresentação de palestras, e atividades muito
mais profundas. Houve, sim, tentativa de diálogo sobre repertório, e o
resultado foi previsível. Músicos votaram contra a apresentação de obras
contemporâneas mais complexas, e sugeriram a já muito conhecida Abertura Egmont
de Beethoven.
Nada contra Ludwig, mas toda orquestra moderna que se preze
precisa ter uma atenção séria para a música contemporânea, e por isso, aliás,
eu me apressei em criar o posto de “Compositor Residente” na OSPB, com diversas
primeiras audições previstas para os próximos anos. Eu de fato estarei levando
música paraibana para minha apresentação frente à Orquestra Filarmônica de
Chicago no fim deste mês, onde lá irei reger a “Seresta n. 7″ de Liduíno
Pitombeira. Mas outro fato deixou claro a ineficácia de decisões de repertório
por colegiado. Um músico de sopros me apresentou, em reunião, uma partitura
dificílima de José Siqueira (seu Divertimento para Cordas), que não só deu
férias para o mês todo à metade da orquestra, mas impôs um jugo desproporcional
nos seus colegas.
Fica claro que a idéia de fazer tais decisões em colegiado
tem sua glória ideológica, mas na prática não funciona, ao menos não dentro da
atual estrutura da OSPB, e é usada para que músicos garantam ainda mais semanas
de férias e um repertório mais fácil, privando seu público de obras
emocionantes, grandiosas….e, sim, que exijam maior desempenho de seus músicos.
Como a maioria dos Diretores Artísticos nunca vem trabalhar nesta função, nem
solicitam reuniões, chegamos perto da temporada e dos concertos e não há
repertório planejado.
A orquestra está indo para uma interrupção na temporada. O
que fazer, se não tomar uma iniciativa? Porém, quando alguém toma uma atitude
para remediar isso, é tido como autoritário, seja este o Maestro, a Executiva
ou qualquer outro dos numerosos Diretores Artísticos. A tendência portanto é da
orquestra cair na morosidade devido à falta de liderança. Isso, sinto muito
àqueles que disso dependiam, mas isso também acabou.
6) Alega-se que o salário da OSPB é baixo. Sim, é, quando
comparado a outras orquestras brasileiras. Apesar disso, este ano houve um
aumento na casa dos 40%, sobre o qual tristemente não houve uma única
manifestação de agradecimento por parte dos músicos (!!!). E deve-se levar em
consideração que a OSPB não é uma orquestra que trabalha em tempo integral, e
sim parcial. A orquestra apresenta somente 2 concertos por mês, trabalha em
média 7 horas por semana, e tem um rendimento “por serviço” de cerca de 90% o
que a OSESP recebe, este no estado que de acordo com o IBGE está 24o. lugar
entre 27 estados no quesito PIB per capita.Ou seja, o que pesa à economia
paraibana pagar um salário de R$2400 é comparável ao que pesa a economia de São
Paulo prover um salário de R$12.000. Isso está 1/3 acima do piso da OSESP.
E se você considerar a dolarização do salário “por
concerto”, a OSPB está entre as mais bem pagas orquestras assalariadas do
planeta. E adicione a isso que apesar de serem funcionários públicos, músicos
da OSPB tem mais de 3 meses por ano de férias pagas, algo injustificável frente
a seus colegas no funcionalismo paraibano e na rede estadual de professores,
pela qual os músicos são pagos – os membros da OSPB são “Professores de
Orquestra” pagos pela Secretaria de Educação. O que acontece portanto é um
desequilíbrio entre salário e produtividade, assim como uma errônea comparação
entre as condições financeiras do estado da Paraíba e outros na União.
Não é justificável uma comparação entre os salários
paraibanos e paulistas, ou cariocas, e isso também se extende à minha pessoa,
pois os meus rendimentos como Regente Titular (e Diretor Geral do PRIMA,
juntos) estão muito aquém dos salários de meus colegas em outras orquestras
estaduais. De fato, acredito que a 10 anos atrás o maestro da OSESP recebia
mais “por mês” do que eu recebo “por ano”.
O caminho à frente não é a imposição de patamares
injustificáveis, mas sim o fortalecimento da economia da Paraíba, com maior
produtividade, para que esta economia mais forte possa beneficiar não só os
músicos da OSPB mas também todos os paraibanos. Temos que fazer nossa parte, e
de agora em diante a Orquestra Sinfônica da Paraíba irá produzir para o Estado
e seu povo.
7) Ainda fala-se muito de Eleazar de Carvalho por aqui, como
se a OSPB tivesse “um grande futuro em seu passado”. Ora, não houve renovação
de talentos, e uma geração ou mais não encontrou aqui oportunidades de
desenvolver suas carreiras, encontrando-os em outras localidades. A última vez
que a OSPB contratou um músico foi por volta de 1988. Eu estive em Chicago e
conheci muitos colegas que trabalharam com Fritz Reiner. Porém, a CSO continuou
a ser uma grande orquestra após Reiner, e mediante a contínua renovação de seus
músicos.
O mesmo deve acontecer na Paraíba, pois Eleazar foi sim
importante, mas mais pelo seu legado do que um momento específico no passado.
Isso é válido a todas as orquestras do Brasil, com o devido equilíbrio entre o
respeito aos empregos dos que já estão na orquestra a um constante influxo de
jovens músicos.
O que se vê agora na Paraíba, de fato, é uma enorme vitória
dos jovens, pois estamos abrindo oportunidades, postos de trabalho,
experiências, e um caminho para esta saudável rotatividade, sem de maneira
nenhum pressionar ou desrespeitar os empregos dos colegas de maior idade e
experiência.
Qual o caminho à frente?
A OSPB abrirá concursos em breve, para dezenas de músicos.
Sua temporada funcionará como qualquer outra orquestra no Brasil, com
atividades regulares, concertos educativos, repertório emocionante e uma
prioridade no povo da Paraíba, incluindo concertos regulares no interior do
estado. Não está prevista nenhuma demissão ou re-audição de músicos efetivos, salvo,
é claro, se houver justa causa. A atuação da OSPB está sendo revista de ponta a
ponta, e a atual liberdade de expressão não será limitada ou regulada.
Ela será, sim, estruturada de modo a servir os interesses do
povo da Paraíba com uma orquestra onde as reuniões são feitas de maneira
educada, sem truculência ou ameaças físicas nem porte de armas (!!), e estão
previstas três Comissões de Músicos, com voto direto e secreto por parte de
todos os músicos da orquestra, sem coação, pressão ou ameaças.
Nosso país é democrático, e estes princípios valem de cima a
abaixo de nossa sociedade. A Comissão de Músicos em si representará os assuntos
relativos às condições de trabalho gerais, a Comissão Artística tratará de
assuntos relativos a repertório e funcionalidade da orquestra, e tenho o desejo
de criar também uma Comissão de Viagens, para melhor estruturar as diversas
incursões do grupo para o interior do estado, e como melhor servir nossos
contribuintes.
Ante toda esta confusão, eu parabenizo o Governo da Paraíba,
o Secretário de Cultura, e todos os músicos que, secretamente e fora do radar
desta minoria vocal, tem me auxiliado a traçar um caminho de mais bom senso e
benefícios reais para a orquestra. Seria irresponsável para um governo olhar
esta situação e não fazer nada, perpetuando esta ineficiência. Apesar da
aparência de instabilidade, a OSPB hoje está com maior certeza de um grande
futuro do que jamais teve nos últimos 20 anos, e disso temos muito orgulho.
Aguarde nos próximos meses os produtos deste trabalho transparente e
maravilhoso vindo da Paraíba, que volta a ter uma posição de grande relevância
no cenário orquestral brasileir
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