Arthur Bispo do Rosário está no centro da 30ª edição, que
será aberta na sexta-feira
No centro de tudo, está o mundo de Arthur Bispo do Rosário
(1909-1989). Do artista brasileiro partem as “constelações” — obras que ocupam
os 25 mil metros quadrados da Bienal de São Paulo. De Bispo também parece
emanar o ar de inventário, a ideia de artistas como pequenos colecionadores de
inventos e achados organizados em série. A 30ª edição, aberta nesta
sexta-feira, em nada lembra a célebre Bienal do Vazio, que deixou um andar do
pavilhão desocupado em 2008, e parece buscar caminho mais delicado que o da
montagem quase labiríntica da Bienal de 2010.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/bienal-de-sao-paulo-supera-crise-financeira-com-constelacao-de-artistas-5987865#ixzz25VqFUL1g
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Agora, há muito, mas há paredes. Se em 2008 foram apenas 40
artistas e, em 2010, mais de 160, a curadoria do venezuelano Luis Pérez-Oramas
selecionou 111 nomes. O orçamento também é menor: R$ 22,4 milhões (65% captados
via Lei Rouanet), contra R$ 28,3 milhões em 2010. Esta edição foi ameaçada por
uma crise financeira e administrativa da instituição — a Fundação Bienal teve
até os recursos captados bloqueados por problemas em prestações de contas ao
governo federal.
Depois dos “tempos turbulentos”, como definiu o curador, a
Bienal tem 2.900 obras que preenchem o prédio e parecem orbitar em torno de
Bispo do Rosário e, ao mesmo tempo, podem ser vistas individualmente: a
montagem optou por cercar, com paredes de madeira pintadas de branco, boa parte
dos trabalhos dos artistas. Assim, defende o curador, não há imposições.
— Queremos uma Bienal clara, não transparente; inteligente,
mas não bombástica; cheia de vínculos a se construir, mas sem o maneirismo da
confrontração pela confrontração — disse Oramas na manhã de ontem, em coletiva
à imprensa.
O público tem acesso ao mesmo tempo à proposta de diálogos
entre as obras e a miniexposições dos artistas, que, com espaços amplos e
cercados, têm seus trabalhos mostrados com mais profundidade, como explica o
curador. Assim, passa-se da sala de Rodrigo Braga, onde fotos e vídeos mostram
a intensa relação do artista brasileiro com a natureza, à área mais aberta do
jovem colombiano Ivan Argote, em que sofás velhos e cadeiras usadas servem de
acento para o público ver e ouvir os vídeos em que o artista parece se portar
como um voyeur da vida urbana.
‘Mapa conceitual’
Mas é do chamado “eixo transversal”, criado pelas obras de
Bispo do Rosário, no primeiro andar, que seguem os “raios” em direção ao térreo
e ao último andar da Bienal. Perto da entrada do pavilhão, por exemplo, a
norte-americana Sheila Hicks cria sua arte têxtil com bordados que tanto são
caros ao artista brasileiro homenageado nesta edição. Há até relações mais rápidas,
como a que se faz entre as obras de Bispo numa parede e as de Michel Aubry na
parede oposta. O artista francês costura tapeçarias, roupas e mobílias num
ambiente vizinho ao de Bispo.
— Estabelecemos um mapa conceitual, partindo da premissa de
que são as obras que criam os conceitos, e não o contrário. O processo de
seleção foi longo e intenso, a partir de demoradas visitas aos artistas ou a
seus representantes. Começamos a mapear então os incontáveis vínculos. O mito
da obra única é um mito. Há sistemas que se articulam nas obras.
Nas articulações, surge a forte presença de artistas
latino-americanos — cerca de 45% do total de selecionados para a mostra. E,
embora o curador diga que “os artistas que estão na Bienal estão nela porque
são bons”, ele próprio não nega a presença massiva dos latinos. Há trabalhos
políticos, como o do venezuelano Eduardo Gil, que cria uma obra em movimento
com os rostos de ditadores, ou de arquivo, como a grande parede de incontáveis
retratos do mexicano Iñaki Bonillas.
— É claro que entendemos que a Bienal é na América Latina e,
portanto, deve mostrar o que se produz aqui.
O último andar é quase tomado por fotografias, das 619 fotos
feitas pelo alemão August Sander (1876-1964), numa espécie de catálogo do
alemão típico do século XX, aos deliciosos retratos urbanos do holandês Hans
Eijkelboom, que registra padrões (de roupas, estilos) nas ruas das metrópoles.
Ambos parecem discutir algo frequente nesta Bienal já distante do vazio: a
relação entre o indivíduo e o coletivo, ou, no idioma desta edição, a
articulação entre as estrelas e as constelações.
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