segunda-feira, 4 de março de 2013

GUERRA–PEIXE, CÉSAR (1914-1993)


 César Guerra-Peixe (Petrópolis, 18 de maço de 1914 – Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1993) foi um compositor brasileiro, filho de imigrantes portugueses de origem cigana.

Musicalidade Precoce

Aos 9 anos já tocava violão, bandolim, violino e piano. Viajava muito com a família pelo interior do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, assistindo freqüentemente a grupos folclóricos, o que marcou muito sua infância. Estudou violino com o professor Gao Omacht, na Escola de Música Santa Cecília, e teve aulas particulares de violino e piano com Paulina d´Ambrósio. Com apenas cinco anos de estudo, obteve a medalha de ouro oferecida pela Associação Petropolitana de Letras.

Após prestar concurso para ingressar na Escola Nacional de Música, obtendo o primeiro lugar, Guerra-Peixe transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde, para sobreviver, passou a trabalhar como músico em orquestras de salão que tocavam em confeitarias e bares, além de integrar um trio alemão que se apresentava na Taberna da Glória. Na Escola de Música, fez os cursos de harmonia elementar, com Arnaud Gouveia, e de conjunto de câmara, com Orlando Frederico. Nessa época, começou a trabalhar como arranjador para alguns cantores e gravadoras. Depois de ler o “Ensaio sobre a Música Brasileira”, de Mário de Andrade, Guerra-Peixe mudou seu conceito de composição. “Depois de ter lido Mário, comecei a compor com mais consciência...”. Em 1943 ingressou na Escola Nacional de Música, para se aperfeiçoar em contraponto, fuga e composição, tornando-se o primeiro aluno a concluir o curso de composição do Conservatório.

De Mário de Andrade ao dodecafonismo

Em 1944, terminando o curso, Guerra-Peixe, ansioso por conhecer as novidades no campo da música, entrou em contato com o professor Koellreutter. Suas peças eram, até então, compostas dentro do modelo clássico com melodia brasileira, sendo a Suíte infantil nº 1 para piano a expressão maior desse período. Guerra-Peixe decidiu destruir todas as obras compostas anteriormente, passando a adotar a técnica dodecafônica. Na primeira fase da concepção dodecafônica, sua primeira composição, Sonatina para flauta e clarinete, foi intencionalmente antinacionalista. Compôs também a obra Noneto, interpretada por Hermann Scherchen em diversos centros europeus. Nessa época, participava do grupo Música Viva, com Cláudio Santoro, Edino Krieger e Eunice Katunda.

Por uma dodecafonia nacionalizada

Depois de compor uma obra em que todas as características dodecafônicas se realizam alheias aos valores musicais brasileiros, Música nº 1 para piano e solo, suas obras seguintes acentuaram a intenção de nacionalizar os 12 sons, como Sinfonia nº1 para pequena orquestra, executada pela BBC de Londres, o Quarteto de cordas nº 1 e as Miniaturas para piano. A peça Trio de cordas foi um marco na pesquisa da dodecafonia, no sentido de conferir-lhe tons nacionais. Composta em 1945, nota-se, no segundo movimento (andante), um desprendimento no manejo da técnica dos doze sons. A fase dodecafônica encerrou-se em 1949 com Suíte para flauta e clarinete.

Um sulista nordestinizado

Entre 1948 e 1950 trabalhou como arranjador na Radio Jornal em Recife. A decisão de aceitar um trabalho na região nordeste foi tomada com o objetivo de conhecer melhor o folclore nordestino. Suas pesquisas musicais foram anotadas em cadernos, com várias melodias sendo utilizadas em obras compostas na década de 1950. Parte do resultado das pesquisas foi publicada em 1955, sob o título Maracatus do Recife (editado pela Ricordi).

Guerra-Peixe passou a conhecer o folclore brasileiro como poucos, ganhando sua música uma nova dimensão a partir do estudo de ritmos nordestinos como o maracatu, coco, xangô, frevo. O compositor descobriu que os passos do frevo foram trazidos por ciganos de origem eslava e espanhola, e não por negros africanos, como se pensava até então. “Durante 3 anos me meti nos xangôs, maracatus, viajei para o interior, recolhi músicas de rezas para defunto, da banda de pífanos...”. Em 1960 compôs a sinfonia Brasília, conhecida como a obra mais importante de sua fase nacionalista.

Músico, professor e arranjador

Guerra-Peixe compôs trilhas para os filmes Terra é sempre Terra e O Canto do Mar, sendo premiado em 1953 como melhor autor de música de cinema. Também realizou trabalhos no campo da música popular brasileira, fazendo arranjos sinfônicos para músicas de Chico Buarque, Luiz Gonzaga e Tom Jobim.

Integrou a Orquestra Sinfônica Nacional como violonista e dedicou-se à carreira de professor, dando aulas de composição na Escola de Música Villa Lobos, e de orquestração e composição, na Universidade Federal de Minas Gerais. Ali, durante toda década de 1980 até a sua morte. Guerra-Peixe formou um grupo de músicos que ficou conhecido então como “Escola Mineira de Composição” e que reunia os nomes de Gilberto Carvalho, Nélson Salomé, Lucas Raposo, João Francisco de Paula Gelape, Sérgio Canedo, Marden Maluf, Alina Paixão Sidney, Clarisse Mourão, Félix Down Gonzáles e Dino Nuget Cole, entre outros. Nélson Salomé, talvez o discípulo mais diretamente ligado ao mestre, prepara o lançamento, para 2009, de um livro sobre o período.

Na sua fase de maturidade artística, compôs Tributo a Portinari, confirmando seu incomparável domínio de orquestração. Poucos compositores conseguiram como ele, atingir uma versatilidade e uma admirável concisão de linguagem, buscando na simplicidade a sua arma mais eficaz.

Obras: música orquestral, música de câmara, piano solo, violão solo, instrumentos solo, canto e piano, canto e violão, série infantil e sonetos.


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