quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Museu Louvre, irá abrir filiais

Museu Louvre

O historiador de arte Henri Loyrette, um francês de sobrancelhas grossas que não se sente confortável em dar entrevistas em inglês, dedicou dez de seus 59 anos de vida ao Louvre. Diretor do museu mais visitado do mundo, tendo recebido 8,8 milhões de pessoas no ano passado, Loyrette observou, desde 2001 — quando foi eleito pela primeira vez para o cargo —, mudanças radicais no perfil do público que circula por seus corredores:
há cada vez mais brasileiros, mais chineses e mais jovens.Em entrevista ao GLOBO, o francês afirma que a crise econômica não afetou a instituição graças ao apoio de mecenas e destrincha os projetos que pretende realizar até 2013, quando chega ao fim seu terceiro (e provavelmente último) mandato consecutivo como diretor da instituição.
Para o verão europeu, Loyrette promete inaugurar a anunciada ala de arte islâmica, que ocupará um dos principais pátios do palácio do Louvre. Sob um telhado ondulado de vidro e metal que lembra um tapete voador, serão reunidas 18 mil peças que estavam espalhadas pelo museu ou guardadas em sua reserva.
Para dezembro, está agendada a abertura de uma filial do Louvre, com ares contemporâneos, em Lens, cidade no Norte da França. Os planos de Loyrette incluem ainda o Louvre Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Mas a cúpula sobre espelho d’água projetada pelo arquiteto francês Jean Nouvel, orçada em mais de 70 milhões, não deverá cair na conta do atual diretor. "O projeto teve um atraso porque os árabes precisaram alinhar os diversos projetos culturais em execução por lá", ele diz. Ficará para 2014.
Seu mandato no Louvre termina em 2013, e há três grandes projetos para este ano. Dá tempo?
HENRI LOYRETTE: É claro que sim. No meio do ano vamos inaugurar a ala de arte islâmica em Paris, um projeto nascido de uma constatação que fiz assim que cheguei ao Louvre: a de que as coleções islâmicas não dispunham de um espaço à altura de sua riqueza. São 18 mil objetos que cobrem todo o campo cultural do Islã, da Espanha à Índia, do século VII ao XIX. Vale ressaltar que esse projeto constituiu um desafio arquitetônico, porque transforma um dos pátios do museu, um espaço que data do século XVII. Os arquitetos Rudy Ricciotti e Mario Bellini souberam achar um equilíbrio entre o classicismo do palácio e um telhado de vidro ondulado, que evoca a arte islâmica. É algo notoriamente inovador. Mais adiante, em dezembro, inauguramos o Louvre-Lens, um museu totalmente novo, erguido numa cidade do Norte da França que sofreu com guerras e crises industriais do século XX. Na minha opinião, será o museu do século XXI por excelência e nos obrigará a repensar nossa coleção num lugar que em nada lembra um palácio antigo.
E o Louvre Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos?
O projeto teve um atraso porque os árabes precisaram alinhar os diversos projetos culturais em execução por lá. Mas o Louvre Abu Dhabi será, sem dúvida alguma, o primeiro museu desse porte a abrir suas portas na cidade. Será em 2014.
Quem toca o projeto? Como o museu deve funcionar?
Os árabes terão o direito de usar o nome do Louvre por 30 anos, o que mostra uma vontade clara de criar um museu universal. Atualmente, o Louvre toca o projeto, emprestando o know-how dos franceses em arquitetura e museografia, mas esse grande museu está pensado para ter vida própria e completa autonomia. Será o Museu Nacional de Abu Dhabi.
Por que, depois de tantos séculos, o Louvre dá à arte islâmica um espaço de tanto destaque?
Porque objetos criados em países do Islã nunca foram considerados de forma conjunta. Não eram vistos nem agrupados como mereciam. Algumas obras estavam dispersas em diversos departamentos, e outras, na reserva. Foi preciso uma tomada de consciência histórica, estética e até mesmo política para dar a essa coleção sua coerência e mostrá-la em toda sua amplitude.
Não é paradoxal que esse espaço surja no país que proibiu o véu islâmico em espaços públicos?
Quando falamos de arte islâmica, falamos de uma civilização e não de uma religião, uma civilização rica em sua diversidade não só artística, mas linguística e religiosa. A cultura do Islã inclui objetos não muçulmanos. É ampla e inclusiva. A ideia do Louvre é revelar um universo artístico sem distinções entre produções destinadas aos muçulmanos, aos cristãos, aos judeus e aos budistas, por exemplo. Mostraremos essa arte sem clichês ou preconceitos.
O senhor dirige o Louvre há dez anos. O que mudou no museu?
O Louvre viu o número de visitantes aumentar em 70% nas últimas duas décadas. No ano passado, foram 8,8 milhões de pessoas, cifra que nos rendeu o título de museu mais frequentado do mundo. É claro que esse bom resultado tem a ver com a vitalidade turística de Paris, mas despertamos a curiosidade de um público relativamente novo: os brasileiros e os chineses. Depois dos americanos, os brasileiros são os estrangeiros que mais nos visitam. Em 2011, foram quase 500 mil. E isso é ótimo. Vocês, brasileiros, se interessam por nós, e nós, por vocês.
O comportamento do público dentro do museu mudou?
Claro! O público mudou muito. Hoje, um em cada dois visitantes tem menos de 30 anos de idade e está em família ou entre amigos. Quando comecei minha carreira, abríamos o museu de manhã e fechávamos à noite, sem nos preocupar verdadeiramente com quem havia passado por ali. Hoje, o trabalho é bem mais amplo, busca atender plenamente todos os tipos de público, com restaurantes, lojas... E queremos nos dirigir a todos. Não há nada mais estranho do que a ideia de um museu reservado à elite.
Como as crises europeia e francesa afetaram a instituição?
O orçamento do Louvre é da ordem de 200 milhões. Hoje, metade vem do governo, e a outra metade, de recursos próprios, oriundos de mecenas. É preciso ressaltar que a França dá às instituições diversos dispositivos fiscais que encorajam o mecenato. Mas, hoje, nos ressentimos, sim, da redução da subvenção estatal e também do apoio privado. Apesar disso, tenho que ser otimista. O projeto da ala islâmica, por exemplo, acontece graças a um esforço financeiro excepcional. O governo francês e o Louvre bancaram 30% do projeto. O resto veio de generosos doadores de várias partes: Estados, indivíduos e empresas. Apesar disso, ainda precisamos captar 10 milhões para fechar a conta.
O museu perdeu verba?
No Louvre, 93% das despesas são inalteráveis. São os salários e os custos de manutenção de um palácio imenso, que precisa ser conservado. Assim, só sobram 7% do orçamento para financiar toda a nossa programação cultural. E o trabalho é feito de forma a não sacrificar essa agenda, vital para a visibilidade do museu. Mas eu faço aqui uma ressalva. Na minha opinião, especialmente em tempos de crise, as pessoas precisam encontrar pontos de referência, ou apenas ver sinais de beleza.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/louvre-museu-mais-visitado-do-mundo-prepara-novas-filiais-3706752#ixzz1kIzHnjpe
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