A Congregação da Escola de Música aprovou o bacharelado em bandolim, o primeiro curso em nível universitário do instrumento no Brasil.
Agora é definitivo, o nosso simpático cavaquinho, frequentador assíduo dos grupos de choro e das rodas de samba, vai entrar para a academia. E por iniciativa da Congregação da Escola de Música (EM) que acaba de aprovar a criação do bacharelado do instrumento – o primeiro do país. Um pioneirismo que, ao lado do curso de bandolim, inaugurado em 2010, demonstra o esforço da instituição em diversificar sua gama de habilitações e em incorporar práticas musicais contemporâneas.
O curso de cavaquinho abre boas perspectivas para a emergência de um repertório novo na música de concerto, assim como possibilita o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas voltadas para a prática do instrumento em suas diferentes vertentes. As ementas da nova habilitação do Departamento de Arcos e Cordas Dedilhadas haviam sido aprovadas no ano passado e, no último dia 14, a grade curricular e as ementas das disciplinas específicas para o bacharelado foram definidas. O projeto segue agora para análise do Conselho do Centro de Letras e Artes. A ideia é oferecer a opção já no próximo vestibular.
Instrumento muito popular no Brasil, o cavaquinho é de origem portuguesa - assim afirmam pesquisadores como Oneyda Alvarenga, Mário de Andrade e Câmara Cascudo. No livro Instrumentos Populares Portugueses (1964), de Ernesto Veiga de Oliveira, é descrito como “um cordofone popular de pequenas dimensões, do tipo da viola de tampos chatos - e, portanto, da família das guitarras europeias”. Para Gonçalo Sampaio é procedente de Braga, no Minho. Dependendo do lugar é conhecido também como braguinha, braga, machete, machetinho ou machete-de-braga, entre outros nomes.
Em Portugal é fundamental nas tunas acadêmicas, conjuntos musicais compostos de estudantes universitários que tocam pelas ruas. No Brasil, assumiu papel de destaque na música popular urbana carioca, especialmente no samba e no choro. Além desses dois países, é usual encontrá-lo também em Moçambique, Madeira, Açores, Cabo Verde e até no Havaí.
Uma curiosidade. Uma das primeiras menções literárias ao instrumento é o conto O Machete (1878) de Machado de Assis. A obra ficou muito tempo em segundo plano até que despertou recentemente o interesse de críticos como José Miguel Wisnik. Um primor de ironia e ceticismo machadianos, narra as desventuras de um músico, violoncelista, que vê sua esposa trocá-lo por um exímio executante de cavaquinho. Não resta mais nada ao marido traído, antes de enlouquecer, senão reconhecer a derrota: “ela foi-se embora, foi-se com o machete. Não quis o violoncelo, que é grave demais. Tem razão; o machete é melhor”.
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