Músicos receberam nas férias uma carta convocando para uma avaliação coletiva em busca da excelência do conjunto.
Curioso acompanhar o imbróglio de repercussão internacional gerado na Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) pela decisão, anunciada há pouco mais de um mês, de realizar uma avaliação coletiva dos músicos em busca da excelência do conjunto, no momento em que podemos estar a menos de um ano da efetiva inauguração da casa própria da OSB na Cidade da Música. O maestro Roberto Minczuk e a direção da Fundação OSB esperam que uma “segunda chamada” seja atendida, já que 56 dos cerca de 80 instrumentistas recusam-se a participar das audições iniciadas neste dia 10 de março e estão recorrendo à justiça.
O episódio não fala só de questões artísticas ou sociais, mas da alma humana: os mecanismos de ataque e defesa gerados pelo medo e a prevenção, impeditivos do entendimento. Fala também dos métodos capitalistas neoliberais que tantas vezes se contrapõem às aspirações e direitos de indivíduos e coletividades. Fala da presença dessa voz da multidão em que se transformou a internet. Mas fala sobretudo do desejo ou necessidade de construção de um organismo sinfônico de primeira linha numa metrópole de um país emergente.
Empenhados melhorar o desempenho da orquestra (“a qualidade de gravação alcançada ainda não é aceita por produtores europeus”, informa-me a assessoria de imprensa da OSB, “porque existem deficiências muito básicas, de acertar notas, por exemplo, sem contar afinação, articulação, etc.”), seus dirigentes dão a impressão de ter agido no diapasão do comando, visando metas e resultados: em vez de proporem aos músicos e negociarem, temendo ter de adaptar essas metas, simplesmente decretaram, convocaram.
Não podem ter esquecido que uma orquestra é não só um conjunto, formado primordialmente pelos que estão tocando, mas um organismo vivo em que sintonia e harmonia são palavras-chave. Minczuk e a Fundação evidentemente consideram que uma fria política de resultados é a melhor maneira de alcançar seus objetivos; talvez tenham calculado mal a reação e a repercussão, ou decidiram enfrentá-las, mas ainda está por ver se o poder de indignação e mobilização que derrubou Hosni Mubarak tem efeito equivalente no recanto clássico brasileiro. O que se sabe é que a recusa de participar das avaliações pode implicar demissão por justa causa.
A reação defensiva dos músicos, muitos há décadas nas estantes da OSB, é compreensível. Os sinais eram de que se pretendia renovar os quadros e partir para uma nova etapa (houve oferta de um plano de demissões voluntárias). Os dirigentes, contando com o patrocínio de mais de 30 empresas, tendo desde 2006 elevado o orçamento de 6 milhões para 35 milhões de reais/ano e os salários (finalmente regularizados) para uma faixa de 6 a 11 mil reais/mês, querem gravar discos, contratar turnês, mostrar um som mais refinado nas temporadas. Haveria outra maneira de chegar lá?
A OSB tem progredido com a atual gestão, mas ainda não deu aquele salto qualitativo que lhe permita inserir-se em patamar equivalente ao da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Ainda há fissuras na estrutura organizacional e ranhuras no verniz musical. E, convenhamos, reformar um conjunto sinfônico com metas assim não poderia ser feito sem contrariar interesses. Sabendo-se que uma reavaliação em massa desse tipo, com seus corolários traumáticos, provavelmente não é praticada em lugar algum, caberia perguntar o que o Rio de Janeiro quer ou é capaz de aceitar, para dispor de um Cadillac sinfônico como nunca teve. E também fazer perguntas como: um salário de 11 mil reais pode assegurar dedicação exclusiva de músicos como os que se buscam no caso?
Tsunami virtual - O processo fora iniciado discretamente. Depois de uma temporada 2010 marcada pelos 70 anos de idade da orquestra, os músicos receberam nas férias uma carta convocando para a avaliação. Quem quisesse nas últimas semanas informar-se sobre o andamento do caso tinha a manifestação dos queixosos e quase nenhuma palavra dos proponentes em esparsas matérias nos jornais. Indicação suplementar de que a direção da OSB considerava – tem este direito, juridicamente – que se trata de um processo “interno”.
Mas o observador curioso podia informar-se na internet, tomada por uma avalanche de denúncias, argumentações e queixas – veja-se um apanhado no blog do jornalista britânico Norman Lebrecht. A tsunami da informação informal trouxe dados como estes (muitas vezes, como sempre na internet, sujeitos a caução):
- não se tem notícia de um processo de reavaliação interna em massa como este em orquestras de outras partes do mundo (“é ilegal” na Alemanha, afirma Gerald Mertens, do sindicato das orquestras alemãs);
- a direção da OSB alega que houve processos “informais” de contratação e não há registros legais das contratações anteriores a 2006 (segundo texto de Minczuk reproduzido por Lebrecht); que certos músicos foram contratados sem audição ou com audição em repertório simplificado; que a avaliação decidida servirá de feedback para os próprios músicos e oportunidade de re-adequação dos que sejam considerados aquém (menção específica aos mais velhos: “Temos plena consciência”, diz Minczuk a Lebrecht, “de que músicos que tocam no grupo há mais de vinte anos podem não estar tão em forma quanto os mais jovens. Ainda assim, sabemos o quanto os músicos experientes podem contribuir para a rotina da orquestra. A avaliação será considerada, como pessoalmente escrevi a todos os músicos, apenas uma parte do processo de desenvolvimento da orquestra.”)
- os músicos (pela voz do representante de sua comissão, o violinista Luzer Machtyngier) alegam que as contratações sem audição foram da discrição do próprio Minczuk e que numa orquestra o processo de avaliação interna é permanente, deve ser coletivo e não pode ser concentrado em meia hora de apresentação perante uma banca, como se propõe agora; queixam-se de não terem sido consultados e de terem recebido mera convocação para as avaliações, dois dias depois de entrarem em férias em janeiro;
- cerca de dez dos treze músicos estrangeiros convidados a formar a banca examinadora dos colegas brasileiros desistiram, assustados com o quadro de tirania e injustiça pintado pelos colegas da OSB;
- a Associação das Orquestras Britânicas informa que foi contactada por alguém da OSB com pedido de orientação para urgente convocação de músicos britânicos para audições de candidatura à orquestra brasileira;
O dilema - Um dado suplementar é a mobilização da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem – formada por candidatos à profissionalização e ao aperfeiçoamento – para se apresentar ao público nos primeiros meses da temporada deste ano. A iniciativa levanta questões deontológicas, além de jurídicas, trabalhistas e musicais.
O maestro Minczuk responde abaixo – insatisfatoriamente, na minha opinião – a esta questão da mobilização dos bolsistas para concertos de assinatura da orquestra num período de refundação implicando a possibilidade de demissões. Mas receio que a questão da OSB Jovem acabe ficando como um detalhe no atual processo/dilema, que resumiria assim: como transformar uma orquestra de histórico respeitável, que se aperfeiçoa mas continua aquém do melhor, num organismo pujante capaz de se destacar internacionalmente e dar muito maiores satisfações ao público nacional? Quanto a cidade o deseja e que preços está disposta a pagar?
Na Alemanha, nos Estados Unidos ou na Malásia as respostas certamente seriam outras. Seria possível reavaliar os músicos num processo negociado mais longo e menos traumático, implicando uma espécie de reconstituição do tecido interno ao longo de meses ou mesmo anos? Seria desejável? Faz sentido voltar o foco para o maestro, questionando seus métodos e/ou temperamento, seu próprio desempenho musical e profissional ou o número de semanas/ano que efetivamente dedica a este conjunto de profissionais que quer reformar radicalmente?
De minha parte, se me solidarizo com os músicos, não vou esconder que meus olhos brilham ante a perspectiva de uma OSB se alinhando com as melhores, como acontece com a Osesp desde que John Neschling e Mario Covas tiveram a coragem em 1997 de investir e fazer – é bem verdade que negociando com os músicos, até porque vigorava no caso um estatuto de direito público (et pour cause…). Abaixo, as respostas de Minczuk ao Opinião e Notícia.
- A reação de recusa dos músicos a um inédito processo de reavaliação coletiva podia ser prevista. Qual pode ter sido o cálculo, seu e da Fundação OSB?
Roberto Minczuk: Tendo em vista que estamos oferecendo uma das melhores remunerações para músico de orquestra no Brasil e provavelmente na América Latina, esperávamos que a maioria dos músicos ficasse feliz em aceitar este desafio. Trata-se de um projeto amplo, que prevê um novo regimento interno, já apresentado aos músicos, que demanda maior dedicação à OSB, participação em séries de recitais e música de câmara, gravações de CDs e DVDs, turnês e a nova sala de concertos, algo que o Rio de Janeiro espera há muito tempo.
- Não temos notícia desse tipo de processo de reavaliação em massa em outras orquestras, à parte o caso da Osesp em 1997, quando houve negociação prévia com os músicos. O objetivo na OSB agora seria um processo de “refundação” equivalente ao da Osesp naquela ocasião?
R. M.: Processos de avaliação ocorrem e ocorreram em diversas orquestras do mundo, cada um é norteado por características próprias dos conjuntos, de suas cidades, seus tipos de contratos e suas leis. Algumas orquestras são formadas por funcionários públicos, outras não. A Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira é uma instituição privada e seus músicos são regidos pela CLT. As orquestras no Brasil estão se aprimorando, e a OSB, por sua tradição e pioneirismo, não pode ficar para trás. Nós também queremos crescer e precisaremos da colaboração e energia de todos para isto.
- Como encara as questões éticas, jurídicas e musicais levantadas pela mobilização da OSB Jovem para praticamente substituir a OSB em concertos da primeira parte da temporada 2011?
R. M.: A OSB Jovem não substituirá a OSB na temporada 2011, ela mantém sua rotina de atividades, preparando e apresentando um programa mensal. 2011 terá absolutamente o mesmo número de atividades que 2010. A OSB realiza concertos semanais com ensaios diários. As pessoas que atualmente acompanham o brilhante trabalho feito pela OSB Jovem constatam que hoje ela é uma das melhores orquestras jovens do pais. A sua participação nos concertos das séries oficiais atende a um pedido dos jovens de participar da séries oficiais da OSB, uma vez que alguns programas belíssimos feitos pela Jovem em 2010 só puderam ser apreciados por estudantes de escolas públicas em concertos fechados. Desta forma, estamos prestigiando um trabalho de formação de músicos para as mais diversas orquestras sinfônicas do país, inclusive a própria OSB. Aqui no Rio de Janeiro, o público carioca já teve o prazer de ouvir e assistir a Orquestra Jovem das Américas, a Orquestra Jovem do Festival de Verbier, a Orquestra Jovem Mahler e este ano assistiremos à Orquestra Jovem Simon Bolívar em séries oficiais de assinatura.
- Em que ponto está a questão da instalação da OSB na Cidade da Música? Quais notícias tem da efetiva inauguração do espaço?
Curioso acompanhar o imbróglio de repercussão internacional gerado na Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) pela decisão, anunciada há pouco mais de um mês, de realizar uma avaliação coletiva dos músicos em busca da excelência do conjunto, no momento em que podemos estar a menos de um ano da efetiva inauguração da casa própria da OSB na Cidade da Música. O maestro Roberto Minczuk e a direção da Fundação OSB esperam que uma “segunda chamada” seja atendida, já que 56 dos cerca de 80 instrumentistas recusam-se a participar das audições iniciadas neste dia 10 de março e estão recorrendo à justiça.
O episódio não fala só de questões artísticas ou sociais, mas da alma humana: os mecanismos de ataque e defesa gerados pelo medo e a prevenção, impeditivos do entendimento. Fala também dos métodos capitalistas neoliberais que tantas vezes se contrapõem às aspirações e direitos de indivíduos e coletividades. Fala da presença dessa voz da multidão em que se transformou a internet. Mas fala sobretudo do desejo ou necessidade de construção de um organismo sinfônico de primeira linha numa metrópole de um país emergente.
Empenhados melhorar o desempenho da orquestra (“a qualidade de gravação alcançada ainda não é aceita por produtores europeus”, informa-me a assessoria de imprensa da OSB, “porque existem deficiências muito básicas, de acertar notas, por exemplo, sem contar afinação, articulação, etc.”), seus dirigentes dão a impressão de ter agido no diapasão do comando, visando metas e resultados: em vez de proporem aos músicos e negociarem, temendo ter de adaptar essas metas, simplesmente decretaram, convocaram.
Não podem ter esquecido que uma orquestra é não só um conjunto, formado primordialmente pelos que estão tocando, mas um organismo vivo em que sintonia e harmonia são palavras-chave. Minczuk e a Fundação evidentemente consideram que uma fria política de resultados é a melhor maneira de alcançar seus objetivos; talvez tenham calculado mal a reação e a repercussão, ou decidiram enfrentá-las, mas ainda está por ver se o poder de indignação e mobilização que derrubou Hosni Mubarak tem efeito equivalente no recanto clássico brasileiro. O que se sabe é que a recusa de participar das avaliações pode implicar demissão por justa causa.
A reação defensiva dos músicos, muitos há décadas nas estantes da OSB, é compreensível. Os sinais eram de que se pretendia renovar os quadros e partir para uma nova etapa (houve oferta de um plano de demissões voluntárias). Os dirigentes, contando com o patrocínio de mais de 30 empresas, tendo desde 2006 elevado o orçamento de 6 milhões para 35 milhões de reais/ano e os salários (finalmente regularizados) para uma faixa de 6 a 11 mil reais/mês, querem gravar discos, contratar turnês, mostrar um som mais refinado nas temporadas. Haveria outra maneira de chegar lá?
A OSB tem progredido com a atual gestão, mas ainda não deu aquele salto qualitativo que lhe permita inserir-se em patamar equivalente ao da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Ainda há fissuras na estrutura organizacional e ranhuras no verniz musical. E, convenhamos, reformar um conjunto sinfônico com metas assim não poderia ser feito sem contrariar interesses. Sabendo-se que uma reavaliação em massa desse tipo, com seus corolários traumáticos, provavelmente não é praticada em lugar algum, caberia perguntar o que o Rio de Janeiro quer ou é capaz de aceitar, para dispor de um Cadillac sinfônico como nunca teve. E também fazer perguntas como: um salário de 11 mil reais pode assegurar dedicação exclusiva de músicos como os que se buscam no caso?
Tsunami virtual - O processo fora iniciado discretamente. Depois de uma temporada 2010 marcada pelos 70 anos de idade da orquestra, os músicos receberam nas férias uma carta convocando para a avaliação. Quem quisesse nas últimas semanas informar-se sobre o andamento do caso tinha a manifestação dos queixosos e quase nenhuma palavra dos proponentes em esparsas matérias nos jornais. Indicação suplementar de que a direção da OSB considerava – tem este direito, juridicamente – que se trata de um processo “interno”.
Mas o observador curioso podia informar-se na internet, tomada por uma avalanche de denúncias, argumentações e queixas – veja-se um apanhado no blog do jornalista britânico Norman Lebrecht. A tsunami da informação informal trouxe dados como estes (muitas vezes, como sempre na internet, sujeitos a caução):
- não se tem notícia de um processo de reavaliação interna em massa como este em orquestras de outras partes do mundo (“é ilegal” na Alemanha, afirma Gerald Mertens, do sindicato das orquestras alemãs);
- a direção da OSB alega que houve processos “informais” de contratação e não há registros legais das contratações anteriores a 2006 (segundo texto de Minczuk reproduzido por Lebrecht); que certos músicos foram contratados sem audição ou com audição em repertório simplificado; que a avaliação decidida servirá de feedback para os próprios músicos e oportunidade de re-adequação dos que sejam considerados aquém (menção específica aos mais velhos: “Temos plena consciência”, diz Minczuk a Lebrecht, “de que músicos que tocam no grupo há mais de vinte anos podem não estar tão em forma quanto os mais jovens. Ainda assim, sabemos o quanto os músicos experientes podem contribuir para a rotina da orquestra. A avaliação será considerada, como pessoalmente escrevi a todos os músicos, apenas uma parte do processo de desenvolvimento da orquestra.”)
- os músicos (pela voz do representante de sua comissão, o violinista Luzer Machtyngier) alegam que as contratações sem audição foram da discrição do próprio Minczuk e que numa orquestra o processo de avaliação interna é permanente, deve ser coletivo e não pode ser concentrado em meia hora de apresentação perante uma banca, como se propõe agora; queixam-se de não terem sido consultados e de terem recebido mera convocação para as avaliações, dois dias depois de entrarem em férias em janeiro;
- cerca de dez dos treze músicos estrangeiros convidados a formar a banca examinadora dos colegas brasileiros desistiram, assustados com o quadro de tirania e injustiça pintado pelos colegas da OSB;
- a Associação das Orquestras Britânicas informa que foi contactada por alguém da OSB com pedido de orientação para urgente convocação de músicos britânicos para audições de candidatura à orquestra brasileira;
O dilema - Um dado suplementar é a mobilização da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem – formada por candidatos à profissionalização e ao aperfeiçoamento – para se apresentar ao público nos primeiros meses da temporada deste ano. A iniciativa levanta questões deontológicas, além de jurídicas, trabalhistas e musicais.
O maestro Minczuk responde abaixo – insatisfatoriamente, na minha opinião – a esta questão da mobilização dos bolsistas para concertos de assinatura da orquestra num período de refundação implicando a possibilidade de demissões. Mas receio que a questão da OSB Jovem acabe ficando como um detalhe no atual processo/dilema, que resumiria assim: como transformar uma orquestra de histórico respeitável, que se aperfeiçoa mas continua aquém do melhor, num organismo pujante capaz de se destacar internacionalmente e dar muito maiores satisfações ao público nacional? Quanto a cidade o deseja e que preços está disposta a pagar?
Na Alemanha, nos Estados Unidos ou na Malásia as respostas certamente seriam outras. Seria possível reavaliar os músicos num processo negociado mais longo e menos traumático, implicando uma espécie de reconstituição do tecido interno ao longo de meses ou mesmo anos? Seria desejável? Faz sentido voltar o foco para o maestro, questionando seus métodos e/ou temperamento, seu próprio desempenho musical e profissional ou o número de semanas/ano que efetivamente dedica a este conjunto de profissionais que quer reformar radicalmente?
De minha parte, se me solidarizo com os músicos, não vou esconder que meus olhos brilham ante a perspectiva de uma OSB se alinhando com as melhores, como acontece com a Osesp desde que John Neschling e Mario Covas tiveram a coragem em 1997 de investir e fazer – é bem verdade que negociando com os músicos, até porque vigorava no caso um estatuto de direito público (et pour cause…). Abaixo, as respostas de Minczuk ao Opinião e Notícia.
- A reação de recusa dos músicos a um inédito processo de reavaliação coletiva podia ser prevista. Qual pode ter sido o cálculo, seu e da Fundação OSB?
Roberto Minczuk: Tendo em vista que estamos oferecendo uma das melhores remunerações para músico de orquestra no Brasil e provavelmente na América Latina, esperávamos que a maioria dos músicos ficasse feliz em aceitar este desafio. Trata-se de um projeto amplo, que prevê um novo regimento interno, já apresentado aos músicos, que demanda maior dedicação à OSB, participação em séries de recitais e música de câmara, gravações de CDs e DVDs, turnês e a nova sala de concertos, algo que o Rio de Janeiro espera há muito tempo.
- Não temos notícia desse tipo de processo de reavaliação em massa em outras orquestras, à parte o caso da Osesp em 1997, quando houve negociação prévia com os músicos. O objetivo na OSB agora seria um processo de “refundação” equivalente ao da Osesp naquela ocasião?
R. M.: Processos de avaliação ocorrem e ocorreram em diversas orquestras do mundo, cada um é norteado por características próprias dos conjuntos, de suas cidades, seus tipos de contratos e suas leis. Algumas orquestras são formadas por funcionários públicos, outras não. A Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira é uma instituição privada e seus músicos são regidos pela CLT. As orquestras no Brasil estão se aprimorando, e a OSB, por sua tradição e pioneirismo, não pode ficar para trás. Nós também queremos crescer e precisaremos da colaboração e energia de todos para isto.
- Como encara as questões éticas, jurídicas e musicais levantadas pela mobilização da OSB Jovem para praticamente substituir a OSB em concertos da primeira parte da temporada 2011?
R. M.: A OSB Jovem não substituirá a OSB na temporada 2011, ela mantém sua rotina de atividades, preparando e apresentando um programa mensal. 2011 terá absolutamente o mesmo número de atividades que 2010. A OSB realiza concertos semanais com ensaios diários. As pessoas que atualmente acompanham o brilhante trabalho feito pela OSB Jovem constatam que hoje ela é uma das melhores orquestras jovens do pais. A sua participação nos concertos das séries oficiais atende a um pedido dos jovens de participar da séries oficiais da OSB, uma vez que alguns programas belíssimos feitos pela Jovem em 2010 só puderam ser apreciados por estudantes de escolas públicas em concertos fechados. Desta forma, estamos prestigiando um trabalho de formação de músicos para as mais diversas orquestras sinfônicas do país, inclusive a própria OSB. Aqui no Rio de Janeiro, o público carioca já teve o prazer de ouvir e assistir a Orquestra Jovem das Américas, a Orquestra Jovem do Festival de Verbier, a Orquestra Jovem Mahler e este ano assistiremos à Orquestra Jovem Simon Bolívar em séries oficiais de assinatura.
- Em que ponto está a questão da instalação da OSB na Cidade da Música? Quais notícias tem da efetiva inauguração do espaço?
R. M.: Acho que a Prefeitura pode responder com mais propriedade a essa questão.
Por Clóvis Marques
http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/o-dilema-da-osb
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