segunda-feira, 14 de março de 2011

O Carnaval e o Municipal (de São Paulo)

Como já sabe quem leu a matéria de capa da revista CONCERTO deste mês, assinada por Leonardo Martinelli, nem só de Schumann e Saint-Saëns vivem as relações entre Carnaval e música erudita. Tida como o “túmulo” do samba, São Paulo teve o clássico como temática em várias escolas que disputaram o grupo especial no recém-terminado Carnaval deste ano. E o resultado não podia ter sido ser mais contrastante: o Vai-Vai (perdão, mas os moradores do bairro só nos referimos à nossa escola no masculino) foi campeão com João Carlos Martins, enquanto a Unidos do Peruche conheceu o rebaixamento com o Teatro Municipal.

Claro que o desempenho conseguido no Sambódromo tem muito mais a ver com os méritos intrínsecos de cada agremiação do que com o enredo escolhido. E não é o caso aqui de tripudiar em cima do infortúnio da Unidos do Peruche, uma escola tradicional e gloriosa que tem tudo para espantar os incríveis azares que ocorreram em seu desfile de 2011 e voltar a abrilhantar o grupo especial em futuro próximo.

Contudo, não dá para deixar de ver uma ironia amarga neste resultado. Porque, se houvesse um sistema de pontuações e notas no cenário brasileiro de ópera, o Teatro Municipal, outrora uma agremiação de ponta, estaria em situação de rebaixamento no ano de seu centenário.

Como Martinelli bem assinalou em seu texto, consciência da importância da ópera não faltou aos carnavalescos do Peruche, cujo samba proclamava: “Palco divino de estrelas/Bravo!Bravíssimo!/A ópera trouxe emoção/E conquistou meu coração”.

Pois é. Bonito de ler e ouvir (clique aqui para ver a letra completa do samba, bem como o áudio). Pena que o “palco divino de estrelas” do Municipal não receba uma montagem de ópera desde 2008. E, como acontece no futebol com os times ameaçados de rebaixamento, as trocas de “treinador” têm sido constantes.

Para quem assistia nos anos 1980 à telenovela global Roque Santeiro, a meteórica passagem de Alex Klein pela direção artística da casa teve ares de Viúva Porcina -”foi sem nunca ter sido”. Abel Rocha chega para seu lugar com as melhores intenções, credenciais e expectativas.

Por Irineu Franco Perpetuo – Revista Concerto

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