quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Segunda Guerra vista por Lasar Segall

Lasar Segall

Lasar Segall (1891-1957) concebe uma série de 75 desenhos provocados pela Segunda Guerra Mundial. Diante da barbárie nazista, o artista reage. Aqui, a melhor chave é a proposta por Gilda de Mello e Souza, quando se refere à arte de Segall como "apolínea". Por sua formação, o artista brota do clima expressionista alemão --do mesmo modo que Otto Dix (1891-1969). Mas conservou, como característica própria, o sentido da composição clara, organizada, em que a simplificação das formas lhes confere um formidável poder impositivo. Usando a palavra com cautela, não é impróprio mencionar um espírito clássico a seu respeito.
Esse classicismo aqui evocado, além dos princípios de clareza, equilíbrio e construção, acresce-se de outro. Segall possui uma característica fundamental própria à tradição das artes greco-itálicas: o corpo é o essencial, e o essencial é o corpo. A paisagem, quando existe, é acessória.

O artista explora a luminosidade da página branca, traçando sobre elas sinais que designam o sofrimento de mulheres e homens.
Vejamos a primeira folha, que contém as duas datas. Os algarismos, à direita, são grandes, bem desenhados (foram inicialmente traçados a lápis), num tom de vermelho nada vivo, nada sanguíneo.
É antes terracota, o que põe esses números em sintonia com o fundo da figura lateral, uma parede avermelhada em forma de trapézio, à esquerda. Sobre ela, uma figura feminina suspensa, com os braços amarrados no alto, os seios expostos, a expressão dolorosa.

VIOLÊNCIA
Parece-me que a violência tremenda criada por Segall nem é descritiva, como a de Jacques Callot (Segall nunca foi um criador de espírito realista), nem possui a genial teatralidade como a de Goya (1746-1828), nem inventa um mundo fantasmagórico, como o de Dix. É fruto de uma exasperação contraditória.
As poderosas forças construtoras do artista, a organização arquitetural das composições acirram-se em contraste com as tensões criadas pela evidência maior de cada efeito. O artista não trabalha por impulso sem controle.
Graças às intenções perfeitamente dominadas, os cabelos em desordem, a face dolorosa, os seios caídos da mulher torturada dessa primeira imagem impõem-se com evidência. Surgem com força significante infinitamente maior do que se dissolvidos num conjunto criado por pulsões numerosas e sem cálculo.
Segall concentra, economiza, constrói: com isso, cria uma relação direta, única, singular, com o que representa, e ao mesmo tempo dilata sua concepção, tornando-a universal.

JORGE COLI

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