segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Andrea Matarazzo fala das controvérsias de sua gestão em entrevista exclusiva

Secretário de Estado da Cultura de São Paulo fala sobre polêmicas e mudanças em projetos
Na entrevista a seguir, concedida ao Jornal O Estado de São Paulo, o secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, aborda temas como o Festival de Inverno de Campos do Jordão, a nova sede do Museu de Arte Contemporânea e as trocas no comando do Museu da Imagem e do Som, em declarações repercutidas na classe artística paulista.
Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão
"Pretendo transferir o comando do festival, hoje feito pela Santa Marcelina e pela Escola Tom Jobim, para a Osesp. A Santa Marcelina estava sobrecarregada. Como teremos uma ampliação do projeto Guri, preferimos redistribuir o festival. A Osesp ainda está preparando o projeto, mas a intenção é manter a orientação pedagógica atual."
O Estado apurou:
A Osesp já está sobrecarregada. Tem tocado mais e ensaiado menos. Aumentou consideravelmente seu número de concertos. Em 2009, segundo o Relatório Anual de Compromisso Social, foram 228 apresentações, além de 51 ensaios/concertos didáticos; em 2010, o número subiu para 252, mais 60 ensaios/concertos didáticos. Esses dados não incluem as sessões de gravações. Por conta do acúmulo de trabalho, os ensaios de segunda-feira foram cancelados. A Osesp também não tem experiência pedagógica na execução de um evento nos moldes de Campos do Jordão. Sua academia, bastante recente, conta com apenas 20 alunos e ainda não apresentou resultados pedagógicos consistentes.
O tamanho do festival
"O festival terá a dimensão de sempre. Não terá a dimensão que teve em 2010, quando cresceu muito. Na última edição, não houve redução, mas uma volta ao tamanho usual."
O Estado apurou:
Havia um processo de crescimento do festival, anunciado em 2009 e interrompido em 2011. Houve redução no número de concertos, que passou de 83, em 2010, para 55, em 2011. Também houve diminuição de orçamento - de R$ 6,5 milhões para R$ 5,5 milhões -, de duração - de 29 para 20 dias - e do número de bolsistas - de 170 para 164.
Nova sede do MAC
"O prédio está pronto. Negociamos R$ 10 milhões para a manutenção. Mas tive a surpresa de receber uma carta falando do problema do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP. Mas terei uma reunião com o reitor para definir uma data. Vazio o prédio não vai ficar. Poderíamos instalar uma coleção contemporânea da Pinacoteca, por exemplo."
O Estado apurou:
Diante da relutância do reitor, a Secretaria começou a negociar com a Pinacoteca. O prédio seria destinado a acomodar coleções privadas contemporâneas. As negociações entre Secretaria e USP só foram retomadas após interferência direta do Palácio dos Bandeirantes. Reitor e secretário se reuniram na Casa Civil.
Complexo Cultural da Luz
"Não houve corte de 30%. O complexo nasceu com um tamanho, mas foram acrescentando coisas nele: uma escola de dança, uma central de produção de cenários. O contrato assinado não previa o tamanho do prédio. Agora, chegamos às medidas ideais. São 71 mil m², que é o tamanho do Lincoln Center."
O Estado apurou:
O contrato assinado entre a Secretaria e o escritório Herzog& deMeuron, em 2008, baseava-se em um programa elaborado pela empresa inglesa Theatre Project Consultants. Nesse documento, que consta como anexo do contrato, estavam previstas a Escola de Dança e a Central de Produção. Havia também tamanhos especificados para todas as áreas.
Escola Tom Jobim
"A sede da escola dentro do Complexo Cultural da Luz foi reduzida porque estava superdimensionada. Havia espaço previsto para 4 mil alunos. Mas a escola só tem 1.800. Ela vai abrigar a escola integralmente, com capacidade para até 2 mil alunos."
O Estado apurou:
A área prevista para a escola dentro do complexo não se baseava em uma previsão de crescimento, mas nas necessidades do número atual de alunos. Em abril de 2010, a área destinada à Tom Jobim era de 5.900 m². Em julho deste ano, essa previsão caiu para 2.580 m², um tamanho inferior à área que a escola já ocupa em sua sede atual: 3.700 m².
Museu da Imagem e do Som
"A troca de diretoria no MIS foi necessária, pois o museu era caro e restrito. Então, fomos ajustando as diretorias, apertando os controles. André Sturm não foi indicado por mim. Apenas sugeri o seu nome ao conselho, que aceitou minha sugestão. A Organização Social do MIS não estava cumprindo metas. Eu poderia ter simplesmente descredenciado e colocado outra no lugar. Sempre que sentir que os recursos públicos não estão bem aplicados, vou interferir sem cerimônia."
O Estado apurou:
"Não foi apenas uma sugestão. Houve pressão política para que o conselho aceitasse o nome de André Sturm", diz Eide Feldon, ex-presidente do Conselho do MIS. "Faltou negociação." Ela também assegura que não houve descumprimento de metas por parte da OS. "Tivemos crises, mas todas as metas estavam sendo cumpridas. Ele não tinha motivos para descredenciar a OS." A lei que dispõe sobre as Organizações Sociais do Estado, assinada pelo governador Mario Covas em 1998, é clara: apenas o Conselho Administrativo da OS pode "designar e dispensar os membros da Diretoria". O professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Mario Engler, explica que a legislação não prevê que caiba ao governo nomear ou destituir os membros de uma OS. "Essa influência do poder público até pode acontecer, mas em um cenário de descumprimento reiterado das obrigações por parte da OS."

SP Escola de Teatro
"O novo prédio, na Praça Roosevelt, está pronto. Só tivemos uma dificuldade na compra dos móveis e do elevador. Eles não mudaram ainda porque estão enrolando um pouco. Existe espaço suficiente para todas as atividades da escola. Eles é que fizeram o projeto do prédio. Eu herdei isso. Eles é que dimensionaram, agora tem que caber."
O Estado apurou:
A diretoria da escola nega ter participado diretamente da elaboração do projeto da sede na Praça Roosevelt. Não haveria, no novo prédio, área suficiente para abarcar todas as atividades que hoje são desenvolvidas pela SP Escola de Teatro em sua sede provisória, no Brás.
Conselho da Osesp
"Não vou me meter no Conselho da Osesp. Se aceitaram a indicação de Lilia Schwarcz é porque ela tinha qualificações. Não me parece que haja algo estranho no fato de ela ser mulher de Luiz Schwarcz. Não há impedimento legal."
O Estado apurou:
Em agosto, deixaram a Fundação Osesp os conselheiros Luiz Schwarcz, Pérsio Arida, José Ermírio de Moraes Neto e Celso Lafer, que foram substituídos por Lilia Schwarcz, Alberto Goldman, Fábio Barbosa e José Carlos Dias. A troca seria uma maneira de manter Schwarcz, que foi o principal responsável pela escolha da maestrina Marin Alsop para o posto de regente titular, ligado à instituição, já tendo em vista o encerramento do mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência do conselho.

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