quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os Quatro atos do Rigoletto no Theatro Municipal de São Paulo.


A primeira ópera produzida pelo Theatro Municipal de São Paulo após uma longa reforma é o Rigoletto de Giuseppe Verdi. A popular ópera esgotou os ingressos há tempos. Um título desses é escolha certa para a comemoração do centenário do  mais paulistanos dos teatros . No último dia 12, autoridades de todos os níveis foram ao teatro, muitos fizeram discursos , tivemos aplausos por todos os lados. Finda a cerimônia de apresentação muitos foram embora, sequer ficaram para assistir ao primeiro ato. Coitado do Rigoletto.
   A apresentação do dia 15/09 foi marcada por solistas medianos. O Rigoletto interpretado por Bruno Caproni dá conta do recado, mas não empolga. Travado pela direção cênica mostrou uma voz volumosa , médios e graves escuros e um timbre normal. O soprano Alexandra Lubchansky vem da distante São Petesburgo, sua Gilda é morna. Cantou o básico, não assumiu nenhum risco, fez um arroz com feijão sem bife e fritas. Seu timbre é belo, seus agudos são claros e muitas vezes luminosos. Um soprano convencional.O duque de Mantua do tenor Leonardo Capalbo tem timbre opaco, seus agudos não têm a claridade e o brilho que se esperam de um tenor.
   No dueto final do segundo ato houve um desencontro entre solistas e orquestra, o tenor olha para o soprano, indecisão no ar e ambos se esquecem dos agudos finais. A mais famosa ária dessa ópera, La Donna è Mobile provoca comoção e aplausos efusivos no teatro. Finda essa ária não ouvi sequer uma mísera palmada, nada. Fiquei estupefato, caiu-me a cara no chão, fato inédito na história da ópera mundial. Tem coisas que só acontecem em São Paulo. 
   Os comprimários se deram bem, destaque para Stephen Bronk, um Conde de Monterrone com graves grandes e cheios. Luiza Francesconi uma bela e possante voz na Maddalena e Luiz Molz um bom Sparafucile. A orquestra esteve no ponto certo, Abel Rocha acertou nos tempos , nos andamentos e no volume. O coro cumpriu suas passagens com sonoridade encorpada, grande apresentação.
   A direção de Felipe Hirsch faz uma leitura fria do Rigoletto, aperta o coro em um círculo, movimenta pouco os cantores e deixa de lado toda a dramaticidade da peça. Enfoca no visual em detrimento do emocional. Seu Rigoletto é estático , tudo é simbólico e muitas vezes confuso. Os cenários de Daniela Thomas e Felipe Tassara seguem as idéias da direção. Primeira ato, um salão que se transforma em uma ogiva, ou um foguete ou uma usina atômica, se vê todas as coxias do palco. O Rigolleto mora em andaimes, deve ser confortável pacas. No segundo ato mais andaimes. No terceiro ato um belo espelho d'água simboliza o pântano, esse permanece como a casa do Sparafucile. Quem não conhece o libreto se confunde, personagens que deveriam estar ocultos (Gilda e Rigoletto) estão lado a lado com Sparafucile e Maddalena. A movimentação dos cantores no espelho d'água faz um barulhinho irritante, que incomoda e atrapalha a  beleza da música verdiana. O melhor ficaria para o quarto ato, infelizmente o público não esperou e todos foram embora para casa ou jantar com os amigos. 
Ali Hassan Ayache 

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