terça-feira, 29 de novembro de 2011

Exposição Zoom latino-americano reúne coleção de 40 obras de artistas de 11 países (PR)

Mostra será aberta no Palácio das Artes, com direito a pinturas de Fernando Botero e Frida Khalo
As imagens estranhas da mexicana Frida Khalo (1907-1954) e os gordinhos do colombiano Fernando Botero são mesmo tudo de bom. Mas não dá para reduzir a arte feita na América Latina só ao trabalho da dupla. São muitos países, todos com história antiga e conturbada, que, com regularidade, tiveram na arte uma tentativa de autocompreensão e formulação de seus dramas e alegrias. Caminho criado por autores expressivos e, especialmente, muito singulares no modo como se movem entre as grandes tradições da arte europeia e o desejo de algo próprio, original e, por que não dizer, latino-americano. Outros clássicos respeitados, mas longe de serem bem conhecidos, são a atração da mostra Zoom latino-americano, em cartaz na Grande Galeria do Palácio das Artes até 15 de janeiro.
É mostra dedicada à pintura, com trabalhos de 40 artistas de 11 países (Brasil, México, Argentina, Colômbia, Cuba, Chile, Equador, Nicarágua, Guatemala, Uruguai e Venezuela) vindos da coleção do grupo Fomento Econômico Mexicano (Fensa), conglomerado empresarial mexicano. “É pequeno grande tour, convite para se realizar aprazível viagem pela geografia artística do continente”, afirma Rosa Maria Rodrígues Garza, curadora da mostra com Juan Darío Restrepo. “Criamos passeio que levará as pessoas a desfrutarem e conhecerem, por meio de consistente núcleo de obras, grandes mestres do século 20, propostas da pintura do pós-guerra e artistas do século 21”, garante. “A mostra é ótima oportunidade para observar a heterogeneidades das práticas artísticas no continente”, avisa a curadora.
Trata-se de pluralidade de propostas estéticas que vem dos desafios postos aos artistas por distintos contextos culturais, geográficos, sociais e políticos. Se países latino-americanos parecem semelhantes, devido à língua e à cultura europeia, observa a curadora, também se alimentam de fontes distintas das espanholas e portuguesas. O exemplo pode ser a imigração africana e a influência dela nos países sul-americanos, que “muda de maneira contundente o perfil cultural dos países em relação aos outros”, como o México, inserido em legado pré-colombiano. Mais: o realizado em cada país, explica, continua “se enriquecendo exponencialmente”, à medida que se aceleram dinâmicas de interação trazidas por mundo globalizado.
O interesse pela arte latino-americana, como conta Rodríguez Garza, tem crescido nos últimos 30 anos. “Antes, o que existia era o interesse por obras modernas, com referências históricas. Hoje, colecionadores – não só latino-americanos, mas também europeus e norte-americanos – se voltam para obras dos anos 1960 e 70 e para artistas com carreira em desenvolvimento a partir dos anos 1980, ainda que eles necessitem de maior projeção internacional”, analisa. A globalização, para a curadora, não apaga “um significativo sentido de identidade cultural”, traço da arte atual e não só dos latino-americanos. “A arte, por ser fiel reflexo da época em que vive o artista, é uma maneira de observar as culturas e as realidades”, defende, vendo nas expressões artísticas as melhores evidências da capacidade de comunicação e de criação de laços entre seres humanos, além de fonte de desenvolvimento da sociedade.
Influência construtiva
Está na exposição Zoom latino-americano obra de um artista fascinante: o uruguaio Joaquín Torres-Garcia (1874-1949). É pintura com traços diretos, geometrização que dá aos objetos e coisas do mundo a dimensão de símbolos básicos de todas as culturas do mundo. O trabalho mostra o que o artista chamava de “universalismo construtivo”, sistema estético-filosófico concebido por ele, que articulando elementos da arte pré-colombiana e do modernismo, propõe uma arte universal e autenticamente latino-americana.
Na origem do conceito criado e defendido por Torres-Garcia esteve trajetória do artista, que estudou arte na Espanha e passou por Nova York, Itália e Paris. Na última, no fim dos anos 1920, conheceu e discutiu com Mondrian (1872-1944) e Theo van Doesburg (1872-1944), dois fundadores da abstração geométrica. A partir dos anos 1930, Torres-Garcia não só pratica como teoriza o universalismo construtivo. Atitude radicalizada com a volta ao Uruguai em 1934, quando cria a Associação Arte Construtiva, abre ateliê de ensino coletivo e faz mais de 500 palestras sobre o assunto.
O universalismo construtivo de Torres-Garcia influenciou artistas de todo o mundo. Foi fundamental, por exemplo, para os mineiros Marcos Coelho Benjamim e Fernando Lucchesi, que viram trabalhos do uruguaio em 1978, em mostra dedicada a ele no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. “Foi empatia imediata, parecia que tinha feito o trabalho dele. Adorei a simplicidade e poesia das peças”, recorda Lucchesi. Buscou então, informações sobre o artista e faz obras com geometria bem despojada. “Continuo perseguindo Torres-Garcia”, brinca. “Ele é sempre uma inspiração, é grande artista”, enfatiza.
Todos os artistas
David Alfaro Siqueiros (1896-1974); Manuel Álvarez Bravo (1902-2002); José Bedia (1959); Cundo Bermúdez (1914-2008); Antonio Berni (1905-1981); Jacobo Borges (1931); Fernando Botero (1932); Claudio Bravo (1936-2011 ); Iberê Camargo (1914-1994); Santiago Cárdenas (1937); Leonora Carrington (1917-2011); Leda Catunda (1961); José Luis Cuevas (1934); Eugenio Dittborn (1943); Pedro Fígari (1861-1938); Oswaldo Guayasamín (1919-1999); José Gurvich (1927-1974); Graciela Iturbide (1942); Frida Kahlo (1907-1954); Wifredo Lam (1902-1982); Roberto Matta (1911-2002); Carlos Mérida (1891-1984); Armando Morales (1927); Juan O’Gorman (1905-1982); José Clemente Orozco (1883-1949); Damián Ortega (1967); César Paternoso (1931); Marta María Pérez Bravo (1959); Eduardo Ramírez Villamizar (1923-2004); Diego Rivera (1886-1957); Armando Reverón (1889-1954); Vicente Rojo (1932); Bestabeé Romero (1963); Mira Schendel (1919-1988); Antonio Seguí (1934); Jesús Rafael Soto (1923-2005); Rufino Tamayo (1899-1991); Luis Tomasello (1915); Joaquín Torres-García (1874 -1949); Remedios Varo (1908-1963).
Zoom latino-americano
Grande Galeria do Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400 begin_of_the_skype_highlighting              (31) 3236-7400      end_of_the_skype_highlighting. De terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 16h às 21h. Entrada franca


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