sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Momento Rio Bandolim: Academia ouve e discute o instrumento


Depois de criar, em 2010, o primeiro bacharelado em bandolim do País, a UFRJ realizou, na Escola de Música e no Centro Cultural da Justiça Federal, de 12 a 16 de novembro, o “Momento Rio Bandolim” - o primeiro encontro internacional do instrumento com uma abordagem ampla do repertório e debates acadêmicos. O evento tem patrocínio dos Correios e curadoria do professor da Escola de Música (EM), Paulo Sá, com quem O Leopoldo conversou.
O Rio Bandolim vai inaugurar um estilo de evento. Como surgiu a ideia?
Como instrumentista, já toquei em diversos países onde o bandolim faz parte dos currículos universitários. Atividades como esta que estamos organizando são comuns, por exemplo na Alemanha, Inglaterra, Itália, Japão, Estados Unidos e Austrália. Queremos mostrar a amplitude do repertório do instrumento e contextualizá-lo na academia.
Como assim?
No Brasil, a maneira de tocar, de pensar o bandolim, foi desenvolvida no choro. Mas em um curso de bacharelado, é necessário visitar o universo da música em suas diversas modalidades. Na verdade, o instrumento possui um repertório bastante rico, dos períodos Barroco, Clássico, Romântico e Contemporâneo. São quase quatro séculos de uma história que cresceu sobretudo na Europa.
E quanto ao choro?
Como primeiro gênero brasileiro, criado no final do século XIX, antecedendo ao samba, é muito importante e está presente no Encontro e no curso de Graduação.
Como define o bandolim brasileiro?
É, na verdade, a “escola do choro”. O gênero é que faz a maneira de tocar. Resumindo, são três características principais do bandolim brasileiro: o formato, que é híbrido, porque veio da guitarra portuguesa, está entre ela e o napolitano, é uma “mini-guitarra portuguesa”; o repertório, sobretudo do choro, característico do instrumento; e a sonoridade, também típica, mais “brilhante” que a napolitana, com mais harmônicos na caixa acústica. Jacob do Bandolim foi quem sedimentou a forma de tocar brasileira. É importante também não esquecer a presença do instrumento no frevo nordestino. Todo bandolinista brasileiro tem também o frevo em seu repertório.
Como será o evento?
Serão mostradas as quatro principais facetas do bandolim, sua utilização na música clássica, no jazz, no bluegrass e no choro. Em cada uma destas quatro modalidades, o instrumento é tratado ou tocado de acordo com as respectivas tradições. Programamos uma pequena mostra deste quadro geral, com concertos e palestras com demonstrações. Teremos também uma apresentação dos alunos da Escola, os do bacharelado em bandolim e também os de outros cursos que fazem o instrumento como disciplina optativa.
Pode citar alguns dos instrumentistas convidados?
Teremos Don Stiernberg (EUA, jazz); Ugo Orlandi (Itália, clássico, com a tradição europeia), Barry Mitterhoff (EUA, Bluegrass); Marilynn Mair (EUA, música clássica norte-americana para bandolim) e os brasileiros Joel Nascimento, Ronaldo do Bandolim, Afonso Machado, Marco César, Rudá Brauns, entre muitos outros.
Ugo Orlandi, professor do Conservatório de Milão, falará sobre o que?
Sobre a obra de Carlo Munier, instrumentista muito importante para a música bandolinística italiana, a propósito do centenário de sua morte.
Qual a expectativa com o Encontro?
Será importante exatamente na medida em que está ligado à chegada do bandolim no contexto acadêmico. A nova habilitação sempre foi desejada pela comunidade de bandolinistas brasileiros. Ao ser recebido também na Universidade, o Bandolim, todo o seu repertório, toda a produção intelectual gerada sobre o instrumento, tudo passou a ter novas dimensões. O Encontro vai gerar mais reflexão sobre a prática do bandolim. Também queremos incentivar o nascimento de uma nova safra de compositores, ampliar o repertório de música de concerto para o instrumento no País.
Ainda é pequeno?
Sim. Radamés Gnattali foi pioneiro, com a Suíte Retratos e o Concerto para Bandolim e Orquestra de Cordas.  No Encontro, Rudá Brauns vai mostrar uma peça sua para bandolim solo. Sérgio Di Sabatto acaba de concluir um lindo concerto para bandolim e orquestra de cordas, que já está no programa do próximo evento...Fica aqui o estímulo para a criação de peças também camerísticas, com formações variadas, as possibilidades são enormes. Aproveito para salientar o empenho dos alunos de bandolim e o grande interesse despertado com o evento. Estão ansiosos por novos conhecimentos e também pelo Momento de se apresentarem. Vão mostrar um pouco do trabalho da primeira turma de bandolim da UFRJ. Os espetáculos e as atividades  terão entrada franca e as inscrições podem ser feitas pelo site www.momentoriobandolim.com.br.

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